Marta
Nascimento Marques *; Hugo Norberto Krug *
|
publicado
em 18/07/2009
|
Resumo: O significado e a importância do jogo na
vida humana tem sido objeto de estudos de diferentes áreas de conhecimento.
Também sabemos que desde os tempos mais remotos o jogo é uma atividade típica
do homem, por isso sempre fez parte dos conteúdos da Educação Física Escolar
e cada vez ganha mais espaço nestas aulas, pois é uma atividade da qual as
crianças sentem prazer em praticar. O jogo simboliza as mais diversas
vivências do nosso dia-a-dia, sendo então uma atividade livre através da qual
demonstramos nossa forma de lidar com o mundo, com o outro e com nós mesmos.
Desta forma, este ensaio tem como objetivo abordar o jogo como conteúdo da
Educação Física Escolar.
Palavras-chave: jogo, aulas, Educação Física Escolar.
Considerações
Iniciais
Nas aulas de Educação Física Escolar, observamos
que o jogo se manifesta nas crianças de maneira espontânea e descontraída,
aliviando a tensão interior, bem como demonstrando expressão de
contentamento. As crianças agem sem medo e com educação no comportamento,
assim o jogo favorece o desenvolvimento físico, mental, emocional e social.
Nas palavras de Rodrigues (1993) o jogo constitui
um veículo educacional muito importante. É um fenômeno cultural e biológico;
constitui atividade livre, alegre que encerra um sentido, uma significação;
favorece o desenvolvimento corporal; estimula a vida psíquica e a
inteligência; contribui para a adaptação ao grupo, preparando a criança para
viver em sociedade.
O jogo também assegura o espaço de prazer e
aprendizagem, pois aprender com o outro é mais rápido e mais efetivo porque é
mais prazeroso. Por isso temos que ter o cuidado para que em nossas aulas
este seja mais voltado para o lúdico, pois se o jogo vira obrigação, ou é
usado como finalidade de instrução apenas e seguimento de regras, perde seu
caráter de espontaneidade e deixa de ser jogo.
O
significado dos jogos nas aulas de Educação Física Escolar
Somos conhecedores da importância do
jogo como ação pedagógica na escola, desde que este esteja inserido dentro de
um planejamento educacional, pois de acordo com Freire (1989), num contexto
de educação escolar, o jogo proposto como forma de ensinar conteúdos às
crianças aproxima-se muito do trabalho. Não se trata de um jogo qualquer, mas
sim de um jogo transformado em um instrumento pedagógico, em um meio de
ensino.
É notável que sempre que falamos em jogo nas
aulas de Educação Física, há um grande interesse e motivação por parte dos
alunos, pois o jogo faz parte da nossa cultura e do nosso dia-a-dia, ele é
movimento, e sendo movimento trabalha com o corpo e representa valores
sociais e culturais.
Segundo o Coletivo de Autores (1992) o jogo
satisfaz as necessidades das crianças, especialmente a necessidade de “ação”.
Assim, para entender o avanço da criança no seu desenvolvimento, o professor
deve conhecer quais as motivações, tendências e incentivos que a colocam em
ação. Não sendo o jogo aspecto dominante da infância, ele deve ser entendido
como “fator de desenvolvimento” por estimular a criança no exercício do
pensamento, que pode desvincular-se das situações reais e levá-la a agir
independente do que ela vê.
De acordo com a idéia do Coletivo de Autores
(1992), quando a criança joga, ela opera com o significado de suas ações, o
que faz desenvolver sua vontade e, ao mesmo tempo, tornar-se consciente das
suas escolhas e decisões. Por isso, o jogo apresenta-se como elemento básico
para mudança das necessidades e da consciência.
Ainda num contexto de Educação Física Escolar, o
jogo deve ser proposto como uma forma de ensinar, educar e desenvolver no
aluno o seu crescimento cognitivo, afetivo-social e psicomotor, facilitando e
permitindo a interação com o grupo.
Para Brotto (1999) o jogo é um meio para o
desenvolvimento integral do ser humano e de aprimoramento da qualidade de vida.
Por isso quando o conteúdo for jogos nas aulas de
Educação Física devemos ter o cuidado para não colocar os alunos a jogar
simplesmente para existir um ganhador ou perdedor, mas que através do jogo se
busque o crescimento do aluno, como pessoa, como ser humano, que este seja
motivado para a aula, que participe do grupo, que se sinta valorizado e
acolhido em todos os momentos, com oportunidade de livre expressão,
respeitando suas limitações e valorizando suas experiências.
Ainda nesse sentido, segundo Brotto (1999),
podemos aprender que o verdadeiro valor do jogo, não está em somente vencer
ou perder, mas está também, fundamentalmente, na oportunidade de jogar juntos
para transcender a ilusão de sermos separados uns dos outros, e para
aperfeiçoar nossa vida em comunidade.
Vale ressaltar a importância de que a metodologia
utilizada pelos professores de Educação Física esteja vinculada ao sistema
educacional e a uma prática pedagógica intencionalizada de tal modo que
quando o conteúdo ministrado for jogos, não tenha simplesmente o objetivo de
passar o tempo da aula ou de fazê-lo porque os alunos gostam.
Ao encontro dessa perspectiva, Stumpf (2000) diz
que o jogo como parte integrante do conjunto de conteúdos que devem compor a
disciplina de Educação Física, caracteriza-se como um conhecimento de
indiscutível importância, que não pode ser considerado simplesmente como uma
mera atividade utilitária e espontaneísta, desprovido de sentido educativo.
Assim implica dizer que o professor junto com o
aluno deverá buscar a construção de novas formas de ensinar e aprender,
lembrando que a aprendizagem só acontece quando o aluno começa a buscar por
si mesmo o saber, sentindo nele o sabor da descoberta.
Jogos
competitivos ou cooperativos: definição que faz a diferença
Brotto (1997) traça algumas diferenças entre os
"estilos" dos jogos competitivos e cooperativos. Os jogos
competitivos são divertidos apenas para alguns, pois muitos passam a ter um
sentimento de derrota e acabam sendo excluídos por falta de habilidade, tornando-se
apenas expectadores; em alguns, desenvolve-se um sentimento de desistência
face às dificuldades e poucos se tornam bem sucedidos. O autor ainda afirma
que, ao praticar jogos cooperativos, todos no grupo são aceitos e por isso,
desenvolve-se a autoconfiança e a habilidade, que face às dificuldades é
fortalecida, pois o jogo para cada jogador é um caminho de co-evolução.
Neste viés, Orlick (1982) enumera alguns valores
para se jogar cooperativamente. Ele nos coloca que entre esses valores
encontra-se: aprender a responsabilizar-se por si mesmo e pelo bem-estar dos
outros, junto com o jogar limpo, respeitar os outros, alternar formas de
vencer, aprender a perder, eleger o objetivo apropriado, e introduzir
estratégias para o controle da ansiedade e o desenvolvimento de técnicas
básicas de relaxamento.
Para esse autor, o mais importante é ajudar as
crianças e adolescentes a verem a si mesmos e os outros como seres humanos
igualmente valiosos, tanto na vitória como na derrota. O segredo é ajudar a
criança e o adolescente a introduzirem valores adequados no jogo e a
controlar a competição e não o contrário.
Complementando esta idéia, Silva (2000) diz que,
para praticar os jogos cooperativos na Educação Física Escolar, deve-se
aprender a harmonizar conflitos, crises e confrontos, aperfeiçoando a
habilidade de viver em sociedade, criando solidariedade, cooperação e
companheirismo. Por esse motivo, é que devemos defender a aplicação de jogos
cooperativos nas aulas de Educação Física Escolar como instrumento de
educação e de transformação social.
Palavras
finais sobre o jogo
Após o abordado, faz-se necessário
refletir sobre o papel do jogo numa sociedade que está em transformação,
valorizando-o como uma parte para a mudança de valores e atitudes do
cotidiano, ressaltando que a educação é um processo que precisa atingir a
pessoa em sua totalidade, na busca de tudo aquilo que a faz crescer. Assim, a
aulas de Educação Física na escola nos parece um ótimo espaço pedagógico para
se trabalhar estes propósitos.
Referências
BROTTO, F.O. Jogos
cooperativos: se o importante é competir o fundamental é cooperar.
Santos: Projeto Cooperação, 1997.
BROTTO,
F.O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de
convivência. Campinas, 1999.
COLETIVO
DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São
Paulo: Cortez, 1992.
FREIRE,
J.B. Educação de corpo inteiro. São Paulo: Scipioni,
1989.
Orlick, T. The second cooperative sports
and games books. New York: Pantheon,
1982.
RODRIGUES,
M. Manual teórico e prático de Educação Física infantil. 6. ed.
São Paulo: Ícone, 1993.
Silva,
C.A.C. da . Jogos cooperativos no contexto das relações sociais -
sua aplicação no cotidiano como instrumento de educação social. Brasília:
Faculdade de Educação Física/Universidade de Brasília, 2000. Monografia de
Especialização.
STUMPF,
J.M. O jogo nos dizeres e fazeres dos professores de Educação Física
que atuam nas Séries Iniciais de Ensino Fundamental. Caxias
do Sul: UCS, 2000. Monografia de Especialização.
* Especialista em Ciência do Movimento Humano
pela UNICRUZ e em Esporte Escolar pela UNB; Professora da rede pública de
ensino de Santa Maria – RS; Mestranda em Educação – UFSM. martinhanm@yahoo.com.br
* Doutor em Educação pela UNICAMP/UFSM e
Doutor em Ciência do Movimento Humano pela UFSM; Professor Adjunto do
PPGE/MEN/CE/UFSM; Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física
(GEPEF).hnkrug@bol.com.br
|
quarta-feira, 8 de julho de 2015
O jogo como conteúdo da Educação Física Escolar
Assinar:
Postagens (Atom)